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Abstract
O presente trabalho apresenta uma reflexão acerca das representações que
sustentam os critérios demarcatórios de cidade e campo utilizados pelas instituições de
assistência técnica e extensão rural. Deter-nos-emos, especificamente, em analisar as
representações de urbano e rural utilizadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural
(SENAR), e as conseqüências do mesmo para as práticas de capacitação junto ao público
por ele selecionado. O que desejamos problematizar na prática do SENAR, mas deixando
claro que isto não está restrito à atuação do mesmo, é como seu pressuposto de demarcação
espacial do rural e do urbano se baseia em critérios do senso comum, marcados por uma
concepção ideologizada hierarquizante da relação campo/cidade, que em nada corresponde
à dinamicidade das relações sociais e econômicas do embricamento rurbano.
Defendemos, que a delimitação que o SENAR e outras instituições de assistência
técnica e extensão rural utilizam para selecionar o “público rural” para seus cursos e
atividades extensionistas impede que muitas pessoas que vivem em uma “cidade rural”2
sejam "capacitadas" e possam dinamizar o tecido social local, com iniciativas de geraçãode renda e retenção do capital econômico em nível local. Chamamos a
atenção neste artigo, também, para a forma como a própria concepção dos conteúdos dos
cursos promovidos pelo SENAR acaba por ser afetada por este binarismo socioespacial.
Neste sentido, privilegiamos a análise das conseqüências desta concepção binária e
antagônica de rural nas diretrizes estabelecidas pelo SENAR para a seleção dos
participantes para os seus cursos, lançando como questionamento a suposta adequação dos
conteúdos propostos para os cursos, face às necessidades dos habitantes de uma cidade
rural. Segundo a nossa perspectiva, a consideração acerca do que o SENAR considera
como rural afetaria, inclusive, a noção de trabalho rural, que não pode ser compreendida
somente considerando as atividades rurais como correspondendo à atividade agrícola, o
que justifica a necessidade de se buscar novas teorias e visões acerca do rural e da
ruralidade.