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Abstract
Até a década de 1970, as principais destinações da vinhaça, ou vinhoto (sub-produto da
fabricação do etanol) eram os mananciais de superfície e "áreas de sacrifício". Com o
extraordinário aumento da produção do resíduo, com a implementação do ProAlcool, e
ainda com a proibição legal do lançamento da vinhaça nos cursos d´água, no final dos anos
70, esforços passaram a ser envidados no sentido de se desenvolver possibilidades
tecnológicas para sua destinação. Ao longo de duas décadas, muitas possibilidades
tecnológicas foram objeto de pesquisa e desenvolvimento. A despeito disso, em meados
dos anos 80 a fertirrigação se colocava como a alternativa mais amplamente difundida e o
problema se colocava como resolvido. Neste artigo, empreendemos um estudo de formação
de trajetória tecnológica a partir de tomadas de decisão públicas e, em certa extensão,
privadas, adotadas para a solução do problema da destinação da vinhaça e para o
desenvolvimento de novas tecnologias. Três aspectos são particularmente analisados: a
caracterização do problema da vinhaça (em suas várias dimensões: histórica, econômica,
ambiental e científico-social); o ambiente seletivo relevante que atuou na determinação da
trajetória vencedora; e o lock-in na fertirrigação.
As demais linhas de pesquisa, em particular a da digestão anaeróbia - que havia acalentado
tantas esperanças quanto ao fortalecimento do paradigma - foram de forma mais ou menos
importante desmobilizadas. Entretanto, as possibilidades de salinização dos solos e de
contaminação de lençóis freáticos pela continuidade da prática da fertirrigação não foram
afastadas e fazem crer que talvez essas desmobilizações tenham sido prematuras.